segunda-feira, 17 de maio de 2010
BULLYING
A intensificação do “fenômeno” bullying. que não é novo. A necessidade premente de campanha maciça de natureza educativa para coibi-lo. O apoio da escola e dos professores e os cuidados dos pais. Memória.
O “bullying” não é uma prática nova. (1)
O seu significado simplificado por ser assim posto:
Bully, do inglês, significa brigão e como verbo, ameaçar, amedrontar. Então, seria ameaçando, amedrontando.
No passado que me lembre havia, sim, aqueles alunos mais inseguros ou considerados “delicados” que sofriam o assédio dos colegas, a ponto de infernizar suas vidas. Eram vítimas, também, simples alunos sem qualquer particularidade, “eleitos” por algum grupo de valentes apenas para infernizá-los gratuitamente.
O que se dá hoje é a intensificação dessa violência física ou moral, por conta de um quadro social repleto de disparidades, amplificando preconceitos e desajustes.
Como um derivativo desse tratamento de violência moral se dá hoje dentro dos muros da própria empresa. Algumas situações reais:
1. A adjetivação dada a um empregado que não cumpre metas;
2. O desacato verbal por dificuldades do empregado em cumprir determinadas tarefas;
3. A demoção, colocando o empregado em situação constrangedora, como por exemplo, deixá-lo sem função ou atribuindo-lhe tarefas humilhantes;
4. Deslocar o empregado para função subalterna, inferior à que exerce num período de crise como promessa de garantia do emprego e depois mantê-lo na função ou o demitir tão logo a crise seja superada;
5. O assédio sexual.
De um executivo vivendo uma crise incontornável com sua nova gerência, excluído abruptamente das atividades que exercia com eficiência, humilhado, dizia-me que se lembrava de sua competência diariamente lendo todas suas realizações descritas no seu próprio currículo.
Essas situações e outras tantas arruínam, dilaceram o amor próprio do empregado, daí porque essas práticas, o “assédio moral”, constitui-se demanda crescente no Judiciário do Trabalho. Nesse âmbito há, pois, essa instância para a devida correção, mesmo que de natureza financeira (indenizações).
No meio estudantil, as notícias se repetem na grande imprensa: os pais que incentivam os filhos à agressão, a ser valentes; sujeitos da agressão, o estudante negro desrespeitado com apelidos depreciativos, o bom aluno agredido porque é bom aluno, porque é gordinho ou gordinha, porque tem algum desvio de personalidade de natureza sexual, defeito físico, porque usa grossas lentes e por aí vai.
São atitudes que deprimem, enfraquecem a auto-estima do “eleito”, que perde a alegria própria da idade, fazendo do retorno às aulas um pesadelo, um inferno diário.
Num dado momento reage e se recusa a voltar para a escola porque a agressão se tornara insuportável.
Há notícias de casos extremos, como o suicídio das “vitimas” do bullying e, como se deu nos Estados Unidos, a reação desesperada de assediados desprezados ou humilhados no seu ambiente escolar.
Qual a causa próxima desses desvios, dessas agressões?
As respostas são até óbvias:
1. Pais ausentes, geralmente por conta do trabalho;
2. Excesso de “carinho”, mimo, pouca educação e muita tolerância às graças do garoto (a) – “próprias da idade”; incentivo à valentia;
3. Pais desagregados (2);
4. Banalização da violência; as notícias diárias informam de mortes violentas em crimes absurdos que chocam;
5. Pedofilia na infância - que pode gera um sentimento de vingança (3);
6. Agressão na infância, rejeição e abandono – o que dizer da ex-procuradora do Rio de Janeiro que partira para o massacre literal contra menininha de dois anos que pretendia adotar?
7. Falta de princípios morais e éticos que a religião pode oferecer, mas evitando o fanatismo dando ao jovem discernimento e escolhas dentro dessa perspectiva;
8. Jogos eletrônicos de extrema violência no qual vence o jogador que mais mata – aqui também a banalização da violência e da morte.
Essas são “causas próximas” até óbvias.
Mas, qual a solução imediata e urgente possível de conscientização no meio adolescente?
O “bullying” precisa deixar de ser uma tese acadêmica, de frequentar o noticiário indignando os expectadores ou até mesmo o noticiário policial - como se dá nos trotes violentos e sem sentido em algumas Universidades - para se tornar desde logo objeto de campanha nas salas de aula já nas primeiras séries do ensino.
Não com palestras sonolentas cheias de lugares comuns, mas campanha permanente de conscientização e instrução com material didático de fácil compreensão, como forma de alertar principalmente os virtuais ou contumazes agressores do mal que fazem às suas vítimas. Incentivar o respeito dentro de um conceito amplo de amizade, falando da paz e até mesmo da preservação ambiental que também aí se insere.
E nesse contexto, a atenção permanente da escola em coibir os abusos, reunir pais – que devem estar atentos - e alunos e dizer de modo categórico àqueles que a valentia dos seus filhos provém de distúrbios que precisam ser psicologicamente analisados e às vítimas do “bullying” todo o apoio da escola, dos professores e principalmente dos pais.
O trabalho é de base e deve começar agora, hoje, como uma reação a esse estágio obscuro que vivemos e, pior, no meio de tantas tragédias começamos a não mais nos indignar, a considerar eventos normais da vida.
Referências
(1) A crônica abaixo, publicada no blog http://martinsmilton.blogspot.com de 03.10.2009 retrata minha experiência pessoal com o “bullying”:
“Há tempo para tudo e tudo passa com o tempo. Essa frase de efeito me faz pensar em muitas coisas e até na palavra bullying que trata do fenômeno odioso da agressão gratuita que se dá no ambiente escolar. Pequenas gangs ou valentões “elegem” alguns colegas de classe ou da escola e passam a infernizar suas vidas. Diariamente.
Nos meus velhos tempos de ginasial me deparei com essas situações. Vivi essa experiência odiosa.
Em várias oportunidades fui vítima do hoje denominado bullying.
A que mais me lembro, refere-se a um sujeito sempre acompanhado de outros dois ou três, e fui eu o “eleito” para ser sua vítima. Era tapa na cabeça antes da entrada nas aulas e durante as aulas quando distraído o professor, rasteiras e por aí seguia. Por dias, semanas, meses.
Era um tormento minha chegada à escola. Tinha lá os meus medos do que poderia ocorrer se eu reagisse.
Até que um dia, no limite do insuportável, ao se aproximar para mais uma das suas à minha chegada, eu o empurrei violentamente. Ele caiu sentado, sob o olhar perplexo dos seus colegas, na verdade, uma ganguezinha. Todos riram.
- A seu fdp. Te pego na saída, disse ele raivoso e envergonhado.
Aquela manhã foi de pavor. Rezava para que ele fosse embora.
Na saída, do lado de fora do portão, lá estava ele me esperando. Toda a classe sabia do que viria. Um espetáculo de luta livre ao ar livre sob o sol ardente.
Eu naqueles tempos difíceis usava sapatos com solado de pneu, pesados, pois.
Fomos para um terreno próximo com farta assistência nos seguindo entusiasmada.
Descobri naquele dia que sabia brigar. Meu sapatão brilhou solto. Rolamos pelo chão de terra e poeira e por fim, meu bullyinista levou a pior. Abandonou a briga.
Claro que essa contenda teve repercussão na escola. Senti-me por uns dias o “Shane” de “Os Brutos Também Amam”, filme da década de 50 até hoje emblemático.
O sujeito no dia seguinte, hematoma num dos olhos, não conseguindo nem mesmo disfarçar as dores nas pernas, disse que ia para a revanche mas sossegou, nunca mais se aproximou de mim.
Peguei fama de bom de briga, nada a me orgulhar. Meu orgulho é nunca ter começado uma.
Quero deixar este depoimento pensando no que se passa hoje, perplexo com o mostrado há pouco na televisão, a mãe ignorante incentivando a filha a surrar uma colega. E outros casos desse naipe e graves.
Há que serem apoiados aqueles que são vítimas do bullying. Vigilância permanente nas escolas para coibir a agressão física ou moral. E a atenção dos pais. Para os “eleitos”, é infernal cada dia e um pesadelo o dia seguinte, o dia seguinte, o dia seguinte...
E nada de imitar Shane. A malvadeza hoje supera qualquer vilão.” Há que pedir ajuda dos pais e da escola às primeiras ameaças.
(2) Meu artigo “Filhos abandonados” de 28.06.2009, neste portal
(3) Meu artigo “Pedofilia, crime vil e inominável”, de 24.05.2009, neste portal.
Figura: www.childsafetyaustralia.com.au
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Milton, sou testemunha, jamais iniciou uma pendenga... mas acabou todas. Endosso suas palavras partilhando do mesmo ponto de vista. Todavia, enquanto menores delinquentes forem considerados apenas "infratores", independentemente da gravidade do crime, a violência imperará. Parabéns pela matéria.
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