segunda-feira, 31 de maio de 2010

POSIÇÕES DIPLOMÁTICAS BRASILEIRAS – CONTRADITÓRIAS.

O acordo Brasil-Turquia-Irã pode se tornar um fiasco diplomático. Posicionamentos contraditórios da diplomacia brasileira em Cuba e em Honduras. Serra como “exterminador do futuro” da diplomacia brasileira e a cocaína boliviana. A "vingança" de Lula.

Passado aquele primeiro impacto do acordo Brasil-Turquia-Irã que rodou o mundo, no qual aquele último se comprometia a não beneficiar urânio sobreveio a realidade, como já comentamos no artigo anterior.

De sobejo, mesmo com o acordo, já se sabe que o Irã não se furtara em continuar beneficiando parte do material radiotivo que mantém a ponto de até obter, futuramente, elementos para a bomba atômica.

Aos poucos, aquele acordo vai sendo deixado fora de pauta, ensaiando constituir-se um enorme fiasco. E não se pretende aqui, denegrir o esforço brasileiro-turco.

Para que tal primeira impressão seja afastada transcrevo o sentimento de Ban Ki-moom, secretário-geral da ONU que considero imparcial:

“Eu vejo com bons olhos esse acordo, trata-se de um caminho pacífico para resolver a questão iraniana. Se ele tiver amplo apoio da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e da comunidade internacional, poderá realmente se transformar num primeiro passo para uma solução negociada”.

Essa a linguagem diplomática, de agrado aos parceiros do acordo. E agora a ressalva que põe ou pode por o acordo a perder:

“Ao mesmo tempo é preciso reconhecer que os iranianos na foram capazes de provar e convencer a comunidade internacional de que seu programa nuclear é exclusivamente para fins pacíficos. O que faz crescer as preocupações é que após assinar o acordo, o Irã anunciou que continuaria a enriquecer urânio a 20%. Essa atitude mina a credibilidade dos iranianos.” (i)

Num primeiro momento cheguei até considerar as declarações do assessor internacional do Governo, Marcos Aurélio Garcia, de que se os Estados Unidos não cumprissem o acordo se “dariam mal”, ou algo com esse sentido. Não consigo levar a sério esse assessor por seguidas declarações “bombásticas” que se “celebrizou” pelo “top, top, top” em rede nacional de TV (“The top-top man”).

Nem quero exigir muito, mas como tal aspecto da decisão iraniana em continuar enriquecendo parte do seu urânio não foi considerada no acordo? Ou foi tudo no afogadilho mesmo?

O interesse de o Governo Lula aparecer no exterior ainda que com evidente desgaste, é notória e não mede as conseqüências:

1. Lula em Cuba na mesma época em que por aqui se discutia o Plano Nacional dos Direitos Humanos no qual era proposta a revisão da Lei da Anistia entre outros itens polêmicos e rejeitados pela sociedade brasileira – na Ilha, Lula se submetia aos irmãos Castro que não garantem nada ou muito pouco de direitos humanos, liberdade política e de expressão, incluindo informações sobre tortura de presos políticos. Preguiçosos, criticam os Estados Unidos pelo embargo e pela pobreza e não se movimentam para alterar a situação econômica do país, encontrar alternativas. Aqueles carros velhos americanos: a China e a Rússia fabricam carros...qual a dificuldade de adquirir esses veículos desses velhos aliados?

2. Entre Cuba e Honduras a insensatez: a guarida dada ao presidente deposto Manuel Zelaya por tentar, digamos, quase “na marra” impor um plebiscito popular de mudança constitucional – com a possibilidade de dele se beneficiar no sentido de se manter no poder tomando o mau exemplo de Hugo Chaves -, deposição confirmada pela própria Corte Suprema daquele pais. Houve eleições em novembro, o povo acorreu à urnas, elegeu novo presidente. E o Brasil não reconheceu até agora o novo Governo, porque defende a volta de Manuel Zelaya com seu chapelão e todas as suas prerrogativas políticas. Ora, depois de todo esse tumulto, é claro que essa pretensão, em médio prazo é inviável. Nessas relações há o possível – o que não for se adia. E o Brasil, ou Lula, não tem essa perspicácia. Só tem com os “queridos” irmãos Castro que detém o poder de irmão para irmão há mais de 50 anos...

Dou esses dois exemplos para puxar um terceiro, recente, protagonizado pelo pré-candidato José Serra do PSDB. Eis que, num dado momento Serra diria alto e bom som para quem quisesse ouvir que a maior parte da cocaína consumida pelos jovens brasileiros, viria da Bolívia, e que o governo boliviano fazia “vistas grossas” não coibindo no que lhe cabe, a entrada da droga no Brasil.

Reações:

Da pré-candidata Dilma Roussef: “Serra demoniza Bolívia”;

Do “inefável” e inevitável Marco Aurélio Garcia: “exterminador do futuro” da política externa brasileira” (ii).

Lula para “fazer inveja” a Serra, fez pose com Evo Morales, como se cocaína não fosse assunto boliviano e não fosse a Bolívia quem protagonizara um dos grandes confrontos com o Brasil e o vexame que impusera ao “hermano imperialista” ao desapropriar instalações e produção da Petrobras, com a tomada de posição de soldados do exército nos locais para tornar irreversível o ato. (iii)

É a questão da cocaína boliviana, provém mesmo daquele Pais que vive à sombra do Brasil? O Governo Boliviano não estaria mesmo fazendo “corpo mole” – uma forma de garantir “trabalho” aos seus rurícolas, cultivadores da coca?

Desde logo se afirme que há notícias, sim, de apreensão da droga em território boliviano. O que se pode indagar é se essas apreensões significam mesmo efetivo interesse em coibir a entrada da droga no Brasil.

No exato momento em que Lula era fotografado ao lado de Evo Morales para “fazer inveja”, era noticiado que a Polícia Federal havia apreendido quase meia tonelada de cocaína em Três Lagoas (MS) que proviriam da Bolívia. No inicio do mês, foram apreendidos 725 quilos da droga, vindos daquele país. (iv).

Em vez de expor o Governo Brasileiro seu posicionamento sobre as medidas tomadas na fronteira Brasil-Bolívia para desmentir José Serra, o que seria muito útil, politicamente, foi ele, Serra, acusado de “demonizar a Bolívia”, de “exterminador do futuro” e Evo Morales agraciado com fotos para “fazer inveja” ao pré-candidato.

E a cocaína boliviana? E as providências do Brasil para combater a entrada da droga? Ora, a cocaína...

O que interessa são as relações diplomáticas!.

Para encerrar este longo artigo, quero lembrar o contrabando via Paraguai, outro país que vive à sombra do “hermano imperialista”.

O que não passa naquela fronteira, na “ponte da amizade” ou nos seus canais!

Nunca vi cidade mais insuportável que “Ciudad Del Leste” onde brasileiros ávidos e sem freios tudo ali compram e dão um jeito de levar para casa mesmo que acima da quota permitida.

Chego um dia para um agente de turismo em Foz do Iguaçu e comento:

- Melhor seria que esses brasileiro fizessem compras na Santa Ifigênia em São Paulo, como ocorre na 25 de Março com roupas e afins!

- Mas, não! Como fica o turismo aqui em Foz?

Ah, os interesses, os interesses!..

Referências:

(i) “O Estado de São Paulo” de 30.05.2010

(ii) “O Estado de São Paulo” de 28.05.2010

(iii) Decreto 28.701 de 1°.05.2006 do Governo boliviano:

Art. 2°:

I. A partir del 1 de mayo del 2006, las empresas petroleras que actualmente realizan actividades de producción de gas y petróleo en el territorio nacional, están obligadas a entregar en propiedad a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos YPFB, toda la producción de hidrocarburos.

II. YPFB, a nombre y en representación del Estado, en ejercicio pleno de la propiedad de todos los hidrocarburos producidos en el país, asume su comercialización, definiendo las condiciones, volúmenes y precios tanto para el mercado interno, como para la exportación y la industrialización.

(iv) “O Estado de São Paulo” de 29.05.2010.

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