A
partícula “de Deus” terá significado para a Humanidade nestes tempos
conturbados? O sentido do “bóson de Higgs”. Tema difícil para o leigo. A
imensidão do Universo: o “big bang”. A essência da vida insondável. Uma
reflexão a partir do filme “2001, uma odisseia no espaço”.
Desde logo, a partícula não deveria ter esse nome. Ela
fora chamada de “partícula maldita”, não porque trouxesse alguma maldição
implícita, mas porque em teoria ela existia, mas não era encontrada, vista. A “partícula
maldita” (Goddamn Particle) fora
assim batizada pelo físico Leon Ledermann num livro que escreveu sobre o tema.
O seu editor recusou o título, convencendo o físico a mudar o título do livro
para God Particle.
Eis que nesta semana, em manchetes, a mídia em geral
divulgou a sua descoberta sem aprofundamento quanto ao sentido da referida partícula,
o seu alcance, salvo para informar que ela poderia escrever ou descrever toda a
matéria visível no Universo.
Essa descoberta se deu em experiências num gigantesco
acelerador de partículas, denominado “Grande Colisor de Hádrons” de 27
quilômetros de circunferência, construído na fronteira entre França e Suíça a
175 metros no subsolo, nas proximidades de Genebra. O anúncio estrondoso partiu
do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN).
Seria ele o “bóson de Higgs”, do nome do físico Peter Higgs que teria, em teoria, percebido a sua existência. As dificuldades para explanar de modo sintético: “Partícula que ajuda a explicar como o mundo em nossa
volta possui massa” – “massa”: quantidade real de matéria num objeto.
Será preciso aguardar se essa partícula é autêntica considerando possíveis contaminações da experiência.
Será preciso aguardar se essa partícula é autêntica considerando possíveis contaminações da experiência.
O estranho nisso tudo é que Peter Higgs é ateu pelo
que impróprio o batismo da partícula como sendo “de Deus”.
Não sei se do ponto de vista da “vida” no planeta,
alguma coisa mude com a descoberta dessa partícula, salvo um poderoso verbete
nas enciclopédias virtuais, além das comemorações. Afinal, com todas essas
experiências e descobertas fantásticas, habitamos um planeta desigual, semidevastado,
violento, belicoso – bombas atômicas foram êxitos a partir da física – longe de
ser considerado “civilizado” naquela acepção mais elevada do termo.
Variações
do tema
Por outra, com frequência, nessa linha de busca de
explicações aos mistérios do Universo insondável, acima da compreensão pela
mente humana, bate-se pelo “big bang”, pelo qual eclodira toda essa imensidão
que nos encanta e nos assusta.
(Sobre o “big
bang” já escrevi crônica: “Stephen W. Hawking e minhas implicâncias” de
05.09.2010). (*)
Meditando sobre essa nova descoberta me vem à mente o "partículas" do filme “2001- Uma odisseia no espaço” de Stanley Kubrick cujo roteiro
contou com a participação do escritor de ficção Arthur C. Clarck.
No filme, nos momentos cruciais de conquistas humanas,
havia a marcá-las o aparecimento de um monólito negro que surge quando os
ancestrais selvagens do homem se descobrem guerreiros e carnívoros, como se a
violência fosse uma semente maldita incrustada no seu coração.
Agora, no limiar do novo século, um salto no tempo, "Danúbio
Azul" de Johann Strauss, música de fundo como fonte de harmonia e
leveza, diante dos milagres da tecnologia com estações espaciais flutuando no espaço.Eis que um elemento magnético chama a atenção dos cientistas que rumam para a Lua, onde havia uma base. O monólito lá está e pôde até ser tocado. Mas, à tentativa de uma fotografia do misterioso elemento, eclode um zunido ensurdecedor tão misterioso quanto ele.
Estabelecera-se, então, uma viagem interplanetária para Júpiter, cuja nave seria toda controlada por um computador poderosíssimo, o Hal 9000, infalível, revelando "sentimentos", especialmente o da arrogância. Ameaçado de ser desconectado, depois de um erro inexplicável, tornou-se rebelde e assassino sendo por fim desligado.
Próximo a Júpiter é dado ao único sobrevivente da missão, o capitão Dave, assistir ao magnífico espetáculo de cores e imagens como num gigantesco calidoscópio.
Nessas imagens, ocorre a explosão harmoniosa da criação num só processo, tanto do macrocosmo, o Universo, como do microcosmo, o homem.
Dave já fora da nave surpreende-se com um ancião em plena refeição – não mais os alimentos sintéticos, mas os "tradicionais". O velho era ele. Significativo que para mostrar seus atos falhos (humanos) derruba uma taça ...de água.
Por fim, o fenômeno da morte. E nesse momento à sua frente lá está o monólito negro. Dave, já sem forças ergue os braços na tentativa de tocá-lo mas não consegue. O monólito, como se fora uma porta se abre e no espaço, está a Terra, a figura de um feto, significando nesse jogo de imagens a "Terra mãe". E assim, a criação intimamente ligada à força do Universo e o renascimento, representado pela sua transformação num embrião.
O filme não fala em Deus ou em religiões, mas há muito de místico daí porque suscitar diversas interpretações, algumas, possivelmente, muito além daquilo que os próprios autores imaginaram.
O que pretendo transmitir com tudo isso? Que por mais que a ciência avance, há sempre um monólito novo a ser desvendado. Muito pode ser desvendado pela Ciência, pela Física, mas não a essência do ser humano...
Se nem isso conseguimos, como pretender desvendar o Universo e seus mistérios a partir de um...”big bang”!
A partícula recém-descoberta, pois, se insere nesse princípio que, no fundo, pouco desvenda. Quantos monólitos ainda se materializarão à nossa frente nos empurrando para novas descobertas? Infinitos.
(*) “Temas Livres” de 05.09.2010
Imagem:
Modelo de produção de bósons de Higgs na experiência de colisão de dois prótons.
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