terça-feira, 3 de outubro de 2023

A RÚSSIA SE INSPIRA EM "1984" DE ORWELL?

Não me surpreende a notícia divulgada em páginas centrais dos jornais de circulação há dias, dando conta de que Putin assinara decreto convocando mais 130 mil soldados, entre jovens de 18 e 27 anos para lutarem na guerra contra a Ucrânia.

Não sei se já disse isso: a Ucrânia tem o direito de se voltar para a comunidade europeia, para a sua cultura, afastando-se da zanga russa que não foi curada desde os tempos de Stálin. 

Putin incorporou parte desse ranço, desse ar de dominação, incluindo a guerra de conquista, como se deu com a anexação da Península da Criméia território da Ucrânia. A origem da guerra é essa decisão extremada russa.

Essa zanga sempre esteve presente com menos ou mais repercussão na Rússia. Estes tempos são os piores.

E para segurança de seu território, a Ucrânia buscou a proteção da Otan que até então existia desarticulada sem nunca ter de alguma forma oferecido riscos à segurança da Rússia.

A Ucrânia tirou a Otan da letargia e a guerra como andam os ânimos prosseguirá sem tempo de paz, com se constata pelo recrutamento de mais 130 mil soldados russos para sua continuidade. 

Mas, há uma história relativa sendo implantada nos livros didáticos na Rússia.

Artigo publicado no jornal americano "The New York Times" de autoria de Mikhail Zygar, jornalista e escritor russo revela que um homem forte ao lado de Putin o influencia: o talentoso Vladimir Medinski, nascido na Ucrânia mas que nada tem a ver com o país, formado em Relações Internacionais, aluno exemplar que se sobressaiu, também, na Escola de Jornalismo de Moscou. Teve educação conservadora e fora parlamentar. (*)

Informa o articulista que, quando Medinski se formou, a União Soviética entrava em colapso.

Medinski se tornou relações públicas da indústria de tabaco, incentivando o consumo do fumo num processo parecido com "obrigado por fumar". 

Foi nomeado em 2012 Ministro da Cultura de Putin pelos livros que ele escrevia com seus ghost writers, amenizando as mazelas russas e, sempre que possível, colocando a culpa nas divulgações do Ocidente.

E, nesse passo, por exemplo, já que nos livros escolares de Medinski  "fatos em si não significam muita coisa" dizem:

Que Joseph Stalin não foi aquele líder perverso que executou até mesmo seus "camaradas" — eles devem ter merecido o castigo mesmo o da execução sumária —,  mas um líder sábio que derrotou Hitler na 2ª Guerra e que trouxe enorme melhora na vida das pessoas. E não se conte os milhões de mortos de fome no seu tempo;

 ● A União Soviética não se extinguiu pelo colapso de uma economia planejada, mas a culpa exclusiva fora de Mikhail Gorbachev, "um burocrata incompetente" que se rendeu à pressão dos Estados Unidos;

 ● A guerra contra a Ucrânia não é tratada nas 28 páginas do livro, informando suas causas; as explanações repetem a propaganda russa cotidiana para mantê-la;

 ● "Tudo começa não com fatos, mas com interpretações. Se nós amamos nossa pátria, nosso povo, a história que temos que escrever será sempre positiva".  

Claro que o longo artigo de Zygar no NYT não poderia ir a tanto mais detalhes, mas sem exageros  ao reescrever (reinterpretar) fatos históricos nos livros didáticos — mesmo que fatos não tenha relevância na visão de Medinski  —  é possível identificar esse modo de agir com conteúdo do livro "1984" de George Orwell.








A obras, escrita no fim da década de 40, ainda sob a influência dos horrores dos crimes nazistas e mesmo do stalinismo, engendrou George Orwell um mundo no qual o ser humano estaria controlado, manipulado e submisso aos desígnios do "Grande Irmão".

Este trecho da resenha que fiz do livro:

O que seria a "teletela", um aparelho que controlava até os pensamentos das pessoas, senão uma sofisticação da Gestapo e de outras polícias especiais dos regimes totalitários? O que seria o absurdo controle da opinião, em que a própria "história" era modificada segundo os desígnios do Poder — o "Times" era reescrito tantas vezes fosse necessário para registrar os interesses renovados do Partido —, uma versão da imprensa unilateral a serviço do totalitarismo?

E quais as consequências? O sistema de "tratamento psiquiátrico" aos que se rebelavam e aos que caem "em desgraça"; a autocensura, uma voz insuportável que reprime a manifestação, já que são nebulosos os limites permissíveis da expressão do pensamento (**) 

No meu modo de ver a União Soviética, hoje, com Putin e sua guerra de conquista territorial, converteu um grande país com um semblante amargo que nas mortes e nos escombros que se dão na Ucrânia, um país fechado que se diz "inocente" nos seus discursos, esconde sua cultura rica,  sempre defensivos  — a culpa é sempre do Ocidente e dos Estados Unidos —  algo parecido com a Coréia do Norte a cujo pais o líder russo buscou apoio.

Putin deveria ler a obra prima de Dostoiévski "Crime e castigo". Quanto ao castigo um dia virá porque o crime que ele pratica é redundante.  

Difícil de acreditar que Putin se converteu num pária, levando o seu grande país a esse estado de rejeição.

Citações:

(*) O artigo de Mikhail Zygar ("A mente por trás da visão de Putin") foi transcrito pelo jornal "O Estado de São Paulo" de 29 de setembro de 2023;

(**) Resenha do livro "1984" de George Orwell acessar: 1984


 




 

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