09/03/2010
A visita de Lula no Irã vem sendo analisada com desconfiança, por falta de elementos claros de seu real objetivo. Pensaria Lula em marcar sua imagem de líder mundial? Como agirá perante a repressão e a falta de liberdade no Irã? Com risos como fez em Cuba?
Atualização: para justificar a prisão de dissidentes políticos em Cuba, Lula os comparou aos bandidos do Brasil e que será preciso respeitar as leis de Fidel e Raul. Assim, obviamente, será no Irã. Conceito de direitos humanos: chegamos ao fundo do poço!
No meu comentário anterior – “Lula e as ironias da vida” – revelei meu inconformismo com a condescendência que assumira ao lado de Fidel Castro e Raul Castro que ainda reprimem opositores e mantêm presos dissidentes políticos.
Claro que os risos de Lula perante os ditadores de Cuba repercutiram muito mal aqui e no exterior. O escritor peruano Mario Vargas Llosa, por exemplo, na sua indignação, em seu artigo do último dia 7 de março, afirma:
“Mas de Luiz Inácio Lula da Silva, governante eleito em eleições legítimas, presidente constitucional de um país democrático como o Brasil, seria de esperar, pelo menos, uma atitude um pouco mais digna e coerente com a cultura democrática que teoricamente ele representa, e não o descaramento indecente de exibir-se, risonho e cúmplice, com os assassinos virtuais de um dissidente democrático, legitimando com sua presença e seu proceder a caçada de opositores desencadeada pelo regime no mesmo instante em que ele era fotografado abraçando os algozes de Zapata.” (1)
Parece que Lula, em algumas atitudes que toma, ignora – o que não seria de estranhar – a “filosofia da democracia” que não pode de modo tão disparatado acolher tolerâncias em relação a regimes ditatoriais e de exceção.
Aventura-se agora Lula em visitar o Irã, um país presidido por Mahmoud Ahmadinejad, um político com timbres de descontrole mental. Sim, ele por diversas vezes negou o holocausto nazista que exterminou milhões de judeus nos campos de concentração nazista, a par de manter um clima de insegurança na região do Oriente Médio ao hostilizar sempre Israel que gostaria de ver varrido do mapa.
A mais recente pérola foi se pronunciar sobre a tragédia de 11 de setembro de 2001 materializada pela derrubada das torres gêmeas em Nova York. Para ele, tal trágico evento fora uma “grande mentira” americana, “uma ação planejada para criar ‘um pretexto para invadir o Afeganistão”. O ataque terrorista que fez mais três mil vítimas fora “uma armação do serviço secreto americano”.
Esse é o dirigente que Lula visitará em maio próximo que vem negando a exploração nuclear para fins bélicos, insistindo que o objetivo a ser alcançado, tem “fins pacíficos”. Como acreditar numa mentalidade dessas?
Há que ficar claro que a expansão de armas nucleares não é desejável. Ora, direis: mas os Estado Unidos as tem, a França, a Rússia, a Índia, a Coréia do Norte...
Verdade, mas o que ganhou o planeta com isso, além de tragédias, amarguras e experiências perigosas com a explosão dessa arma no mar e no subsolo, uma prática cujas consequências ecológicas até hoje não foram bem medidas.
Ademais, a política desses três primeiros paises citados, tem sido a de conter sua proliferação, de tal ordem que algum celerado dela se valha para colocar em risco o parcelas da humanidade e do próprio planeta.
Lula, para demonstrar independência, não atende aos seus verdadeiros aliados que querem e precisam conter as ambiguidades do Irã.
Sem elementos muitos claros, o que fará Lula no Irã, além de apenas avalizar um país sem democracia, que persegue dissidentes, restringe o trabalho dos meios de comunicação? Rirá para Ahmadinejad ignorando os presos políticos e a falta de liberdade no Irã?
Por falta de referências práticas da visita, sendo ela política, claro que Mahmoud Ahmadinejad dela se beneficiará, porque Lula tem livre trânsito na comunidade internacional ou pensa que tem.
E nessa linha, surgem especulações interessantes.
Nessa linha, quero destacar um artigo de Andrés Oppenheimer, publicado originalmente no “The Miami Herald”. Esse articulista, na busca de uma qualquer explicação para tal viagem, chega a pensar que Lula, nos seus devaneios, no fundo quer a projeção internacional e para a obter a imagem de “ator global” a ser levado a sério:
“E a teoria prossegue: o que poderia ser melhor que atrair a atenção mundial que ter um papel no conflito internacional do momento?”. (2)
E assim deslumbrado pretenderia mediar o conflito latente naquela região, idéia que, se verdadeira lá com seus botões, segundo o articulista, não encontrara ele “uma única pessoa que dissesse que Lula tem chance de obter sucesso onde poderosos mediadores americanos, franceses e russos fracassaram...”
Por fim, nas elucubrações do citado articulista, uma espécie de equilíbrio entre o namoro já oficializado entre Ahmadinejad e Hugo Chaves, Lula seria “cordial com o Irã, porque o Brasil quer desenvolver armas nucleares, ou ao menos deixar essa opção em aberto após a vizinha Venezuela ter assinado vários acordos de cooperação nuclear com o Irã”.
Por falta de clareza da viagem ao Irã, permitem-se essas interpretações. E quem haverá de criticar?
Lula afirma que a Constituição do Brasil veda o uso de recursos nucleares que não seja para fins pacíficos.
Com efeito assim se dá. (3).
Diante desse quadro, do ponto de vista político que parece ser a visita ao Irã, sendo o Brasil uma democracia, não poderá Lula rir diante da falta de liberdade naquele país.
E, mais, pela sua origem, se convocado, deverá ouvir a oposição iraniana.
Mas, como agirá Lula?
Com as mesmas solenidades, amenidades e risinhos como se houve em Cuba?
É possível, porque como disse após a visita à Ilha, “eu aprendi a não dar palpite sobre o governo do outros, porque, muitas vezes, se mete o dedo onde não se deveria meter.” (4).
Se já deixa entrever possível omissão nessas questões, pelo menos não demonstre compactuar com a repressão. Dê provas de que no Brasil há democracia, há liberdade de imprensa, não há perseguição política e não há presos políticos. e, acima de tudo, exigir de Ahmadinejad provas cabais de que o seu programa nuclear tem fins pacíficos.
Só esse posicionamento já ajudaria um pouco para demonstrar as diferenças entre Irã e Brasil, e nem sei se há alguma igualdade a considerar.
Por todos esses aspectos, por todos esses atos imaturos, insisto que este País carece de revisão de posturas, de mudança de mentalidade. Espero que tal se dê neste ano.
Referências:
(1) Jornal “O Estado de São Paulo” de 7.03.2010
(2) Jornal “O Estado de São Paulo” de 28.02.2010 (que publicou a transcrição do referido artigo)
(3) Constituição, artigo 21 – inciso XXIII, alínea “a”
(4) Jornal “O Estado de São Paulo” de 27.02.2010
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