domingo, 4 de abril de 2010

O HAITI E SUA TRAGÉDIA

19/01/2010


A gafe do cônsul do Haiti no Brasil...talvez não tanto uma gafe. O reconhecimento da dura realidade daquele país tão carente. O terremoto expôs com crueza as feridas abertas. A ação dos Estados Unidos e do Brasil nos rumos da reconstrução do Haiti.


Neste mundo que pouco entendemos e temos pouco controle, por hábito e até como forma de autoapaziguamento, enfraquecidos diante de certos fenômenos naturais, buscamos explicações científicas e, desse modo, excluímos a intervenção, digamos, de Divindades. Nessas questões não há que se falar em “lei da causa e efeito” (carma). Assim, diante de uma enchente catastrófica, imagens do satélite são exibidas, indicando a existência de frentes frias intensas, alterações climáticas; um terremoto, as condições geológicas comprovadas que propiciam sua eclosão.

Num dado momento um desses fenômenos espoca e me pergunto: por que naquele instante e não ontem? Por que a tragédia tão traiçoeira e violenta que provocara tanta infelicidade, tanto horror e morte? Por que morreu João e não José...

No caso do terremoto no Haiti não vou escarnecer das palavras do Cônsul daquele país no Brasil, George Samuel Antoine que, sem perceber que o áudio estava aberto, falou alto e bom som o seguinte perante as câmeras do SBT:

"A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido. Acho que de tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá f..."

Quando se referira à macumba, provavelmente apontava para Vodu, religião seguida por cerca de 10% da população haitiana.

Mas, a ira das forças que não controlamos e tampouco entendemos, pode estar na tragédia haitiana também nos aspectos seguintes:

• Um povo que se acostumou a viver no meio do lixo e da promiscuidade;

• Um povo que consumiu todas as suas florestas transformando-as em lenha, restando hoje apenas 3% delas; por isso tempestades e furacões são devastadores no Haiti;

• Um povo que não tem água potável também por conta da devastação florestal; as chuvas torrenciais, lavam o solo tornando-os inférteis;

• Um povo que polui os rios em níveis inimagináveis;

• Um povo que assumia gangues rivais, sendo comuns os assassinatos entre eles; as forças da ONU, lideradas pelas tropas brasileiras haviam pacificado essas gangues;

• Um povo que não planta nas imediações sequer uma árvore frutífera;

• Um povo que faz bolacha de terra temperada com sal e manteiga – alimento de suas crianças sobreviventes;.

As forças brasileiras, com muito boa vontade fazem um bom trabalho, mas que se constitui, o que melhor posso qualificar no caso, de “formiguinha”, eficiente mas lento.

Sim, a violência dos elementos naturais sacudiram o país do modo mais tenebroso, dando razão ao cônsul haitiano no Brasil: a situação do Haiti se revelou do modo mais doloroso possível com o terremoto que escancarou sua dura realidade.

A perplexidade foi tanta que os Estados Unidos assumiram quase que o comando todo da denominada reconstrução do país. Pois, são eles, afinal, o país mais rico, emissor de dólares e com a sorte de ter na presidência um mulato em busca de aprovação entre os americanos conservadores, tendo como aliada Hilary Clinton como chanceler que se despojou de suas mordomias de ex-senadora para enfrentar essa realidade que, penso, jamais imaginou que fosse enfrentar. Na busca de recursos de ajuda, uniram-se Bill Clinton e George Bush. Não é pouco.

Não me digam, por favor, que essa iniciativa americana tem algum interesse estratégico.

A ajuda vem de todos os lados, porém.

O clamor mundial da mão estendida ao sofrido Haiti teve esse custo elevado: quase a destruição do país e milhares e milhares de mortos soterrados.

Acredito que a reconstrução realmente se dará incluindo os esforços do Brasil.

Mas, esse povo além da reconstrução dos aparelhos administrativos, hospitais, escolas e moradias, precisa de água potável nas torneiras, gás para cozinhar, cisternas, solução para o esgoto de modo a que não escorra mais pelas ruas, solução para o lixo...

E muito importante: a conscientização ecológica promovendo o replantio de parte das florestas devastadas e, em todos os locais possíveis, em cada moradia, o plantio de árvores frutíferas.

O trabalho é árduo, penoso.

Mas, concluída a tarefa com êxito será menos uma dádiva aos haitianos e mais uma graça aos seus executores.

Porque no meu artigo “A caridade como solução” de 05.07.2009 concluíra deste modo: “E daí, para concluir, não estou muito “convicto” sobre o que seja melhor para combater essas tragédias: se sem caridade não há salvação ou se a salvação está na caridade.”

(Não nos aliviemos em ver a miséria no Haiti porque este País também tem seus "bolsões haitianos". E são muitos. É só querer ver.)

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