sexta-feira, 2 de abril de 2010

A CARIDADE COMO SOLUÇÃO

05/07/2009

Declaradamente ou não muitos são os que se comprazem em fazer caridade fora das instituições religiosas ou ONGs sérias que se prestam a minorar o sofrimento dos menos favorecidos.

Mas, por maior que seja o empenho, não há dúvida de que a humanidade está doente, o planeta – para ficar num lugar comum – apresenta desigualdades monstruosas. Vira-se a cara para não se ver a pobreza e para as tragédias que nos agridem no dia-a-dia deste mundo e das comunicações globalizados.

Por conta da crise financeira que afetou as principais economias do mundo, anúncio recente da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), estima que mais de um bilhão de pessoas passarão fome em 2009 (uma em cada seis seres humanos – o que significa um recorde).

Um dado inquietante extraio de artigo de Washington Novaes (“Controlar trilhões resolverá tudo”) em “O Estado de São Paulo” de 3.7.2009:

Segundo a FAO, “com 1% dos recursos dados aos bancos na atual crise (mais de US$4 trilhões) se resolveria o problema da fome no planeta (Agência Estado, 20/6), (...) embora haja alimentos suficientes no mundo.”

Claro que os ricos se protegem e num dado momento em que suas fortunas ficam ameaçadas, espoca uma solidariedade incomum que sintetizo numa frase que contém forte apelo egoísta: “Mateus, primeiro os meus.”

Embora não combata a fome, mas doenças não erradicadas em países do 3° mundo, o empresário mais rico do mundo, Bill Gates, passou a praticar declaradamente caridade milionária valendo-se da Fundação Bill & Melinda Gates (Melinda é o nome de sua esposa), depois de deixar em 2008 de atuar na administração da sua Microsoft. Disse recentemente Gates: “Temos que erradicar o pólio porque, se não o fizermos, ela vai voltar e teremos milhões de afetados.”

E destacando o sucesso de sua fundação em campanhas de vacinação acentuara: “A vacinação é a área onde salvamos milhões de vidas e há mais a ser feito.”

Gates, lembrando que parte das fortunas bilionárias devem ser reservadas aos filhos, destacou, porém: “Eu acho que todos os bilionários deveriam doar a maior parte de suas fortunas.”

Nessa linha de promover a caridade, lembra que outro bilionário, o investidor Warren Buffet doou para a Fundação Gates, 85% de sua fortuna ou US$37 bilhões.

Todas as previsões dão conta de que o aumento da pobreza e com ela a deterioração das condições sanitárias, falta de moradia decente, aumento da fome e das doenças são desafios mais que previsíveis, inevitáveis nas próximas décadas, exercendo forte pressão sobre o mundo rico, algo beirando a catástrofe.

Entre nós, entre muitos outros que se escondem no anonimato, o jornal “O Estado” de 5 de julho último trouxe matéria importante sobre milionário que passou a fazer caridade. Trata-se de Marcos de Moraes que em 1989, aos 23 anos, teve um primeiro contato com a pobreza ao se deparar, numa favela de Vila Prudente – São Paulo, com crianças que não sabiam a idade e adultos que não conseguiam dizer o que faziam para sobreviver.

Diz o texto do jornal: “Em sua mente inquieta, a morte de um amigo da família que deixou milhões podia ser motivo para novas perguntas que fazia a si mesmo: “Que diferença faz se tem ou não dinheiro depois de morto? Nenhuma. Melhor gastar durante a vida.”

Associando-se ao médico e neuropsicanalista, Yusaku Soussumi que se qualifica como “humanista”, influenciado pelo “líder kardecista Chico Xavier”, fundaram o Instituto Ruhka que faz doações em dinheiro a famílias pobres, mas em troca exige que as crianças deixem as ruas para pedirem esmolas, venderem balas. Toda a família é assistida por educadores, discutindo “projetos de vida”. Algo como ensinar a pescar.

Hoje mais de mil pessoas são assistidas pelo citado Instituto.

Além dos anônimos que praticam a caridade, acho que outros investidores filantropos surgirão, por necessidade ou conscientização, somando-se aos que já existem e assumirão seu ônus reforçando o empenho para reduzir, pela caridade, essas graves deficiências sociais.

E daí, para concluir, não estou muito “convicto” sobre o que seja melhor para combater essas tragédias: se sem caridade não há salvação ou se a salvação está na caridade.

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