As semelhanças entre as relações japonesas que começaram no passado e as chinesas que vão amadurecendo nos Estados Unidos. Conflitos políticos se misturando com interesses comerciais dos dois países.
Em 1989 nos Estados Unidos, por 35 dias, visitando várias cidades americanas, pude captar a forte influência japonesa que já marcava, então.
O Japão enriquecido, “comprava” os Estados Unidos e seus carros, a começar pela Toyota que lá se instalara em 1984 já prenunciavam uma concorrência muito forte dos veículos japoneses sobre a indústria automobilística americana.
Foi a partir desse avanço que eclodiu pelo mundo os métodos administrativos japoneses, mais pragmáticos, oferecendo emprego estável aos seus empregados e perseguindo incansavelmente a eficiência, controle de custos e de estoque.
Naqueles idos, os japoneses se apresentavam (e se apresentam, claro) como aliados reconhecidos dos Estados Unidos.
Suas aquisições naquele grande país da América do Norte não encontraram resistências numa economia aberta e acessível às oportunidades.
Isso é tão verdadeiro tanto que, pouco mais de 20 anos depois, a Toyota superaria a General Motors, constituindo-se a maior montadora do mundo.
E o ciúme que os japoneses provocavam sobre os jovens funcionários americanos se perdia, muitas vezes, na opção de compra dos seus carros. Ouvi, então, de americanos que se os veículos japoneses fossem mais econômicos e seguros, “ora, que venham os carros japoneses, por que não comprá-los?”. Mirando reverentes a bandeira americana sempre hasteada por perto, mas prevalecendo a “linguagem do dinheiro”...
Ironicamente, hoje a Toyota, mal obtendo o lugar de maior montadora do mundo se vê às voltas com milhares de ‘recalls’ para sanar defeitos em várias linhas de seus veículos, desastre que afeta de modo irresistível sua imagem de qualidade e segurança.
Mas, os japoneses não “compraram” os Estados Unidos que na verdade, mesmo com todas as guerras que advieram, a crise econômica, continuaram fortes - a maior economia do mundo. (1)
Hoje há um fato novo que os Estados Unidos começam a enfrentar, a China. Não há nessas relações que vão amadurecendo, aquele sentido de cordialidade que se dá com os japoneses.
A China, habituada há décadas a mandar e os seus cidadãos mandados pelo poder do tacão porque ainda permanece forte por lá a ditadura do Partido Comunista Chinês que tudo controla mas com economia fortalecida pelo seu gigantismo, começa por avançar sobre os Estados Unidos numa situação semelhante à que ocorrera com os japoneses.
A China não costuma (va) ser contrariada nas suas posições econômicas e políticas.
A tensão entre os dois países, de lado as questões comerciais e do câmbio, neste caso significando que o “iuan” (2) está desvalorizado o que traz vantagens nas exportações aos chineses, afloram interesses políticos e de geopolítica. (3)
A primeira pendenga séria com os Estados Unidos se refere à venda americana de armas para Taiwan. Este portal (VoteBrasil) trouxe matéria bem consistente sobre essa querela do modo seguinte:
“Taiwan e China separaram-se meio a uma guerra civil em 1949, e a China comunista vê Taiwan como parte do seu território e já ameaçou realizar um ataque se a ilha declarar formalmente sua independência.
A China promete habitualmente colocar Taiwan sob seu controle e tem mais de 1.000 mísseis balísticos direcionados para a ilha, mas o governo americano é obrigado por suas leis a garantir que a ilha seja capaz de responder às ameaças chinesas.
Os EUA deixaram de reconhecer diplomaticamente Taiwan em 1979, mas continuam sendo o maior aliado da ilha.” (4)
A outra demanda pela qual se manifestaram a arrogância e o autoritarismo chineses se refere ao Dalai Lama, líder espiritual tibetano que será recebido proximamente pelo presidente Barack Obama.
Ora, a “advertência” da China fora exacerbada: esse encontro significaria, então, uma séria ameaça à relações bilaterais entre os dois países, já estremecidas pelas armas vendidas a Taiwan.
O autoritarismo chinês chega, então, ao limite ao (tentar) impor aos americanos suas idiossincrasias e sua soberba em nome das “relações bilaterais”.
A China invadiu em 1949 o território tibetano, anexando-o ao seu próprio território
O Dalai Lama reconhece o direito da China em permanecer no Tibete. O que pede é apenas a preservação de sua cultura e dos seus costumes.
Nesse passo, qual a ameaça da visita do Dalai Lama a Obama à China?
Nenhuma. O único aspecto que parece preocupar a China será aquele em que a história será relembrada por ocasião da visita e com ela o modo como o Tibete foi anexado ao seu imenso território.
Esse assunto não me é estranho, absolutamente.
No meu artigo de 16.04.2009, fazia exatamente esta pergunta já no título: “Tibete: o que teme a China?”. E respondia:
“Parece temer o clamor da liberdade, o desequilíbrio da violência que se obriga a praticar contra um povo único, com suas tradições e, mais, um alerta ao seu próprio povo de que é possível lutar pela mesma liberdade nas ruas, nas conferências e, no caso tibetano, até pela simples presença de um símbolo, o Dalai Lama mesmo longe de seu pais desde 1959, após um levante tentado e frustrado contra a invasão chinesa.” (5)
Obama como não poderia deixar de ser receberá o Dalai Lama, um líder religioso espirituoso, pacífico e meditativo.
À China, como singelamente disse alguém, precisa dos Estados Unidos. E os Estados Unidos precisam da China? Na economia macro, precisam..
Nessa conformidade é bom que os chineses se enquadrem nesse mundo de tantas contradições e mesmo com as imperfeições que contem o regime, ainda é a democracia que deve nos inspirar. E os inspirar, nesse processo lento e tumultuado nas “relações bilaterais” sino-americanas.
Referências:
(1) V. “Uma breve visão dos Estados Unidos hoje” de 14.09.2009
(2) “Iuan” – moeda chinesa equivalente a R$0,2747.
(3) Geopolítica - Lições de José William Vesentini, Doutor e Livre Docente em Geografia e Professor e Pesquisador no Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP): “Enfim, a palavra geopolítica não é uma simples contração de geografia política, como pensam alguns, mas sim algo que diz respeito às disputas de poder no espaço mundial e que, como a noção de PODER já o diz (poder implica em dominação, via Estado ou não, em relações de assimetria enfim, que podem ser culturais, sexuais, econômicas, repressivas e/ou militares, etc.), não é exclusivo da geografia. (Embora também seja algo por ela estudado). Fonte: http://www.geocritica.com.br/index.htm.
(4) “VoteBrasil” de 02/02/2010 “Após ameaça chinesa, Casa Branca confirma encontro entre Obama e o dalai-lama.” Fonte: Folha Online.
(5)V. “Tibete: o que teme a China?” de 16.04.2009
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