08/11/2009
A expulsão da estudante Geisy pela universidade que estuda, em razão do vestido curto, foi um gesto obscurantista. “Deceparam-se os dedos para tirar os anéis”. A universidade demonstrou que não soube agir com o tumulto e suas causas, agindo com desequilíbrio.
Já algumas vezes me posicionei sobre o recolhimento dos estudantes que se omitem diante dos desmandos da política nacional que transita livre na nossa cara. Descaradamente.
Já disse e repito que nossa luta tem sido pela internet, com mensagens até malcriadas a políticos e “autoridades” que são, na verdade, facilmente “deletadas”. Não há mais movimento nas ruas, bandeiras erguidas, campanhas contra a corrupção política e contra os excessos que hoje se tornaram lugar comum no País.
Que me lembre um movimento importante de natureza política com os estudantes, se deu com os caras pintadas durante o processo de impedimento de Fernando Collor. Depois daí, nada mais de relevante. Que me corrijam que receberei de bom grado a correção.
Tento entender essa quadra da vida universitária: menos com o dinheiro e o enriquecimento fácil, há a preocupação com a própria sobrevivência, com o emprego que garanta um mínimo de dignidade. E nessa linha, há um “fechamento” para tais questões políticas, relevantes, mas que deixam de ser prioritárias. O “egoísmo” que se impõe por conta de sua insegurança. O mercado de trabalho, afinal, está cada mais exigente.
Mas, há em todo jovem, um sentido de inconformismo que pode se manifestar em momentos próprios. Há a latência contida, tal qual a erupção de um vulcão.
Essa erupção se deu da maneira mais indesejada na Uniban de São Bernardo do Campo ao ameaçarem, dezenas e dezenas de alunos inconformados, agredir uma colega que tinha por hábito usar vestido curto, Geisy Arruda, de 20 anos.
Nessa ato de intolerância e agressão gratuita um professor chegou ao cúmulo de dizer perante as câmeras de televisão que não teria mais a aluna ambiente na Universidade depois das ofensas que recebera. Esse o nível de deseducação predominaria, depois, na cúpula da própria universidade.
Claro que para tal descalabro havido, a aluna chamou a atenção da mídia, que não mostraria tanto escândalo em sua vestimenta de ordem a provocar reação tão inusitada, com tal dose de intolerância.
O que fez a Universidade? Não contemporizou e não exigiu da aluna Geisy, decididamente, duas polegadas mais baixas em suas vestes e, ao mesmo tempo em reunião com todos os alunos, chamar a atenção pelas atitudes grotescas que boa parte praticara contra ela.
Não! Preferiu a expulsão da aluna com argumentos descabidos, saindo-se com essa em nota oficial na imprensa: “Foi constatado que a atitude provocativa da aluna, no dia 22 de outubro, buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar”.
Disse mais, algo impensável para os padrões de uma universidade, que expressara, com a expulsão “sua posição de apoio aos seus 60 mil alunos injustamente aviltados.”
Que “ambiente escolar” é esse que centenas de alunos (principalmente) atacaram uma colega de vestido curto? Que aviltamento foi esse? Como assimilar tamanha demagogia? Qual o critério de vestimenta que os alunos revoltosos estarão exigindo daqui para frente? Algo similar à burca ao modelo taliban?
O ambiente escolar foi maculado, sim, por essa reação obscurantista que a Uniban assumiu.
Simplesmente, deceparam-se os dedos para tirar os anéis.
Claro que um despautério desses, provocaria já no dia de hoje, uma onda de protestos, que vai da ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, à silenciosa UNE. No conjunto de outras críticas, disse a deputada Luiza Erundina ao classificar a decisão da Uniban como “moralismo idiota”: “Mesmo que ela fosse uma prostituta, qual seria o problema da roupa? Temos que ter tolerância com a decisão e postura de cada um”.
O Ministério da Educação cobrará explicações..
E por aí vão os protestos para essa decisão assim truculenta de uma universidade que seguiu o caminho mais fácil, sem indagar do ponto de vista pedagógico, quais as causas reais do tumulto provocado por cerca de 600 dos seus alunos e o que daí pode decorrer em outras manifestações.
Recentemente, revi o filme “De repetente no último verão” (1959) do diretor Joseph L. Makiewicz estrelado por Elizabeth Taylor e Montgomery Clift. Na história um jovem homossexual oprimido pela mãe protetora, tinha ela própria como chamariz para que seu filho obtivesse seus prazeres. Depois, a mãe já envelhecida foi substituída pela personagem de Liz Taylor que receberia de presente do citado personagem, um maiô branco que se tornava transparente no contato com a água. Pelo mesmo motivo: chamar a atenção sobre si.
Num momento dado, a tragédia: um bando de jovens enlouquecidos o atacou até a morte.
A diferença é que a aluna expulsa da Uniban, não consta que tivesse essa opção sexual. E nem que tivesse justificaria a agressão que sofreu.
Dá o que pensar, porém, dos seus agressores. Freud explica.
PS: na data de hoje (09.11.09) a UNIBAN, certamente que não resistindo às pressões e à repercussão de seu ato impensado, revogou a suspensão da aluna agredida. Aguardemos como agira a Instituição para resolver a enrascada em que se meteu, um fiasco que atingiu dimensões históricas.
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