15/12/2009
O rebanho bovino por conta do desmatamento e de suas defecações contribui em torno de 50% das emissões de GEEs. O vegetarianismo passa a ser atitude consciente de milhões de pessoas. Soluções para minorar essas emissões e atitude de cada um no dia-a-dia.
No momento destas linhas, não há ainda entendimento sobre o controle das emissões de gases e poluição climática em Copenhague. Como maiores poluidores, os países ricos estão se esquivando em assumir sua parte nos investimentos para conter a degradação ambiental num nível necessário, de tal ordem que se evite, dentro de alguns anos, um pré-estágio apocalíptico.
Um exagero esperar por tempos assim ameaçadores? Pensando ainda de modo otimista, talvez chegue, num futuro não tão distante, a “hora da verdade”, significando um quadro desolador e a partir dai, impreterível, se sensibilizem esses agentes hoje omissos e partam para a busca de novas alternativas para conter e minorar a predação climática em estado terminal.
Já aqui, neste portal, como “eleitor”, há algum tempo escrevi um artigo que, de um ponto de vista mais limitado, digamos, se referia aos prejuízos ambientais que se constatava com o grande rebanho bovino brasileiro.
Esse tipo de abordagem, sei bem, é tratado com algum descaso porque se diz que o agronegócio brasileiro salvou o País da quebra recente com os US$40 bilhões de superávit que ajudou a somar, valor que se transformara em reservas que serviram para equilibrar as contas nesta última crise.
Mas, por incrível que pareça, a questão da produção bovina, vai saindo da mera mania vegetariana – na qual se incluem sujeitos “esquisitos” que adquiriram até asco pelo churrasco - e começa a ser considerada algo a se pensar de modo menos preconceituoso.
O vegetariano já se auto-discrimina ao negar publicamente que não se alimenta de carne de qualquer animal. E para isso há algum sentido de coragem pelo espanto que provoca no meio e pelo inconformismo dos que se sentem afrontados em seus hábitos alimentares rangendo os dentes numa costela bovina mal passada.
Entre os adeptos do vegetarianismo – essa congregação que vai se ampliando – se inclui o ex-beatle Paul McCartney.
O cantor enfrentou exatamente esse inconformismo, recentemente, ao discursar no Parlamento britânico, sugerindo que o mundo se abstivesse de comer carne pelo menos uma vez por semana, às segundas-feiras (“Meat-free Monday”). Disse ele: “Ao fazer pequenas mudanças na alimentação, uma pessoa pode fazer grandes contribuições ao planeta. A alimentação vegetariana faz bem à saúde e protege a Terra”.(1)
Claro que McCartney também se preocupa com o sofrimento dos animais sacrificados muitas vezes da forma mais brutal. (2)
Não foi o cantor poupado de deboches e ironias dos parlamentares, sempre com aquele gracejo de que tal discurso haveria bem em ser comemorado numa churrascaria.
Mas, qual a realidade que se constata no País com o maior rebanho do mundo, posição sustentada pelo Brasil?
Estudos científicos apontam que em 2005 somente o desmatamento para suportar o rebanho bovino e a defecação dos animais resultaram na emissão, em 2005, em mais de um bilhão de toneladas de gases do efeito estufa.
Reportagem publicada pelo jornal “O Estado de São Paulo” de 11.12.2009 (3) acentua que tal volume “equivale à metade das emissões do País”.
Estudo científico preparado para ser apresentado em Copenhague revela três fatores diretamente ligados à pecuária: desmatamento para abertura de pastagens (Cerrado e Amazônia), queimadas para reposição dos pastos e o metano produzido pela fermentação alimentar que se dá no estômago dos animais. (4).
Em 2008, as emissões de gases do efeito estufa (GEES) (5) foram um pouco menores, considerando desmatamento, fermentação animal e queima de pasto:
Em milhões de toneladas:
Amazônia: 499,5
Cerrado: 229,04
Outros: 84,25
Total: 812,89.
Além do estrago ambiental, acentue-se o consumo gigantesco de água para manutenção desse rebanho, o que significa para os países exportadores, garantia de que seus mananciais não serão exigidos porque tudo se processa no País produtor.
Não se nega que a carne é um alimento consumido e apreciado no mundo inteiro. Além do valor econômico já referido tem o seu valor protéico, componente que os vegetarianos substituem por grãos e vegetais de espécies variadas. Outros menos rigorosos na dieta, aceitam ovos de “galinhas felizes” (soltas nos terreiros) e derivados do leite.
A solução, como aponta o estudo, em resumo: melhoria das pastagens existentes, da alimentação, manipulação genética dos animais de tal ordem a aumentar as cabeças por hectare, reduzir áreas ocupadas, elevar a produtividade e encurtar o período de abate.
Constata-se pois que muito há que ser feito em prol da redução de emissões dos gases estufa: preservação radical da Amazônia e do que resta do Cerrado e da Mata Atlântica, destino a ser dado aos resíduos industriais, do esgoto lançado nos rios - fontes em muitos casos de abastecimento de água potável na outra ponta -, ao lixo e tudo o mais que nos relega a predadores conscientes e como tais irresponsáveis
Como tarefa de cada um, não me acanho porque esta matéria é de maior amplitude, em recomendar que todos plantem suas árvores, façam hortas se tiverem como.
Toda vez que transito pelas estrada de São Paulo com pistas duplas e triplas, me pergunto por que no meio delas, geralmente em espaços com quatro, cinco metros, não se plantam mudas de hibiscos variados, juntas, com espaçamento predeterminado entre cada arranjo. São plantas arbustivas, resistente, produzem flores bonitas de cores diferentes e embelezam o ambiente, mesmo nas estradas. Ah, os sonhos...
Legendas:
1. "Parliament Magazine"
2. V. minha crônica “Animais brutalizados” em http://martinsmilton.blogspot.com/ de 03.03.2009 ou Google
3. “Pecuária emite 50% do carbono do País” de Herton Escobar
4. Nessa reportagem de “O Estado” são mencionados os seguintes cientistas e pesquisadores: Mercedes Bustamante (Universidade de Brasília); Roberto Smeraldi (“Amigos da Terra”); Carlos Cerri (USP); Carlos Nobre (INPE)
5. GEEs = Gases do Efeito Estufa (dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N20)
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